Qual será o destino deste blogue?

Aos meus amigos

Creio que fui muito ambiciosa ao pretender gerir dois blogues simultaneamente. Provavelmente este irá acabar por "morrer". Se isso acontecer poderão continuar a seguir-me no site abaixo, onde desde já são sempre bem-vindos

http://www.docaosaocosmos.blogspot.com/

Por lapso, no endereço do blog (ver abaixo) falta um e. Peço desculpa pela gralha mas é mais fácil assumir a gralha do que estar a criar um novo blogue ...
Espero a vossa compreensão

http://www.reflexoeseinterferncias.blogspot.com


Setembro de 2018

Confirmaram-se as minhas previsões sobre a efemeridade deste blogue.

Inativo desde 2010, pretendo agora dar-lhe continuidade mas alterando a sua função.

Vou dedicá-lo essencialmente aos mais jovens, nomeadamente postando textos de vários autores, incluindo textos meus inéditos ou inseridos nos livros que tenho publicado para o público infanto-juvenil.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Dia de Natal


Hoje é dia de ser bom.

É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,

de falar e de ouvir com mavioso tom,

de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros. coitadinhos. nos que padecem,

de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,

de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,

de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.

É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,

como se de anjos fosse,

numa toada doce,

de violas e banjos,

Entoa gravemente um hino ao Criador.

E mal se extinguem os clamores plangentes,

a voz do locutor

anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu

e as vozes crescem num fervor patético.

(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?

Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.

Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.

Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas

e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,

com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,

cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,

as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,

ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.

É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,

como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.

Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.

E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento

e compra. louvado seja o Senhor!. o que nunca tinha pensado comprado.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.

Naquela véspera santa a sua comoção é tanta, tanta, tanta,

que nem dorme serena.

Cada menino abre um olhinho na noite incertapara ver se a aurora

já está desperta.

De manhãzinha, salta da cama, corre à cozinha mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza da matutina luz aguarda-o a surpresa do Menino Jesus.

Jesus o doce Jesus, o mesmo que nasceu na manjedoura,

veio pôr no sapatinho do Pedrinho uma metralhadora.

Que alegria reinou naquela casa em todo o santo dia!

O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas, fuzilava tudo com devastadoras rajadas e obrigava as criadas a caírem no chão como se fossem mortas:

Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está! E fazia-as erguer para de novo matá-las.

E até mesmo a mamã e o sisudo papá fingiam que caíam crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,

Dia de Amor, de Paz, de Felicidade, de Sonhos e Venturas.

É dia de Natal.

Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.

Glória a Deus nas Alturas.

António Gedeão



Litania para este natal

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Num sótão num porão numa cave inundada

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Dentro de um foguetão reduzido a sucata

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Numa casa de Hanói ontem bombardeada

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Num presépio de lama e de sangue e de cisco

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Para ter amanhã a suspeita que existe

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Tem no ano dois mil a idade de Cristo

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Vê-lo-emos depois de chicote no templo

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

E anda já um terror no látego do vento

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Para nos vir pedir contas do nosso tempo

David Mourão-Ferreira



Natal 2005

O menino sorri sobre as palhinhas, e cintilam as luzes do pinheiro,

e mesa está repleta de iguarias e à sua volta há muito comensal,

muitos adultos, algumas criancinhas.

Por entre a excitação o sono espreita mas a hora de deitar não se respeita,

é preciso receber o Pai Natal, com todos os presentes.

Atravessa o ar, em galopada, um tropel de palavras fugidias:

uma boneca, um avião, uma consola, uma casinha, um helicóptero, uma bola,

um robot, um mecano, uma pistola um triciclo, uma prancha, uma viola….

Isolo-me de tanta confusão e penso com saudade nos ausentes

cuja imagem é cada vez mais desbotada.

Levanto-me num gesto sorrateiro, vou à janela e ninguém dá por nada.

É Natal.

No passeio em frente, deitado no chão, dorme um mendigo, coberto com um jornal.

Regina Gouveia



Natal 2008

É Natal

Um enxame de luzes adeja na cidade

As ruas crepitam de música e de gente

que, apressadamente,

embrulha em consumismo o normal egoísmo,

transformado em amor e em fraternidade

Mas logo o Natal cessa

e então tudo regressa

à habitual normalidade.

Regina Gouveia



Natal 2006

Inexorável o tempo avança como um rio que flui

em direcção ao mar das memórias que sedimenta ou dilui.

Mas eis que, de novo, em cada natal se repete a magia

de voltar a ser criança por um dia

Regina Gouveia



E para os mais pequenos…

(Do livro Ciência para meninos em poemas pequeninos, de Regina Gouveia com ilustrações de Nuno Gouveia)




2 comentários:

  1. Graciete Rietsch mMonteiro Fernandes23 de dezembro de 2009 às 21:36

    Os poemas que escolheu são lindos mas os seus comovem-me sempre, em especial o Natal 2005. Um grande abraço.

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  2. Graciete
    Já tenho um novo blogue (do caos ao cosmos, basta clicar à direita na lista de blogues) e esse, mais intimista irá ter mais textos meus
    Um grande beijinho para si
    Regina

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