Qual será o destino deste blogue?

Aos meus amigos

Creio que fui muito ambiciosa ao pretender gerir dois blogues simultaneamente. Provavelmente este irá acabar por "morrer". Se isso acontecer poderão continuar a seguir-me no site abaixo, onde desde já são sempre bem-vindos

http://www.docaosaocosmos.blogspot.com/

Por lapso, no endereço do blog (ver abaixo) falta um e. Peço desculpa pela gralha mas é mais fácil assumir a gralha do que estar a criar um novo blogue ...
Espero a vossa compreensão

http://www.reflexoeseinterferncias.blogspot.com


Setembro de 2018

Confirmaram-se as minhas previsões sobre a efemeridade deste blogue.

Inativo desde 2010, pretendo agora dar-lhe continuidade mas alterando a sua função.

Vou dedicá-lo essencialmente aos mais jovens, nomeadamente postando textos de vários autores, incluindo textos meus inéditos ou inseridos nos livros que tenho publicado para o público infanto-juvenil.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Mensagem de Ano Novo

Receita de ano novo






Para você ganhar belíssimo Ano Novo

cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,

Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido

(mal vivido talvez ou sem sentido)

para você ganhar um ano

não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,

mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;

novo

até no coração das coisas menos percebidas

(a começar pelo seu interior)

novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,

mas com ele se come, se passeia,

se ama, se compreende, se trabalha,

você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,

não precisa expedir nem receber mensagens

(planta recebe mensagens?

passa telegramas?)





Não precisa

fazer lista de boas intenções

para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar arrependido

pelas besteiras consumidas

nem parvamente acreditar

que por decreto de esperança

a partir de janeiro as coisas mudem

e seja tudo claridade, recompensa,

justiça entre os homens e as nações,

liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,

direitos respeitados, começando

pelo direito augusto de viver.





Para ganhar um Ano Novo

que mereça este nome,

você, meu caro, tem de merecê-lo,

tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,

mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo

cochila e espera desde sempre.



Carlos Drummond de Andrade



Recomeça….

Se puderes

Sem angústia

E sem pressa.

E os passos que deres,

Nesse caminho duro

Do futuro

Dá-os em liberdade.

Enquanto não alcances

Não descanses.

De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,

Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.

Sempre a sonhar e vendo

O logro da aventura.

És homem, não te esqueças!

Só é tua a loucura

Onde, com lucidez, te reconheças…

Miguel Torga

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Para isso fomos feitos...

Em 18/12 coloquei a mensagem :


Gostaria de partilhar convosco alguns poemas de Natal

Não sei se todos se aperceberam que poemas de Natal era a porta de entrada para um link. Bastava clicar. Para aqueles que o não fizeram coloco aqui o poema que surgiria e que considero belíssimo





Poema de Natal

Vinicius de Moraes



Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos —

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos —

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:

Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez de amor

Uma prece por quem se vai —

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre

Para a participação da poesia

Para ver a face da morte —

De repente nunca mais esperaremos...

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas

Nascemos, imensamente.
Dia de Natal


Hoje é dia de ser bom.

É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,

de falar e de ouvir com mavioso tom,

de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros. coitadinhos. nos que padecem,

de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,

de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,

de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.

É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,

como se de anjos fosse,

numa toada doce,

de violas e banjos,

Entoa gravemente um hino ao Criador.

E mal se extinguem os clamores plangentes,

a voz do locutor

anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu

e as vozes crescem num fervor patético.

(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?

Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.

Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.

Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas

e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,

com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,

cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,

as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,

ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.

É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,

como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.

Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.

E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento

e compra. louvado seja o Senhor!. o que nunca tinha pensado comprado.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.

Naquela véspera santa a sua comoção é tanta, tanta, tanta,

que nem dorme serena.

Cada menino abre um olhinho na noite incertapara ver se a aurora

já está desperta.

De manhãzinha, salta da cama, corre à cozinha mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza da matutina luz aguarda-o a surpresa do Menino Jesus.

Jesus o doce Jesus, o mesmo que nasceu na manjedoura,

veio pôr no sapatinho do Pedrinho uma metralhadora.

Que alegria reinou naquela casa em todo o santo dia!

O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas, fuzilava tudo com devastadoras rajadas e obrigava as criadas a caírem no chão como se fossem mortas:

Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está! E fazia-as erguer para de novo matá-las.

E até mesmo a mamã e o sisudo papá fingiam que caíam crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,

Dia de Amor, de Paz, de Felicidade, de Sonhos e Venturas.

É dia de Natal.

Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.

Glória a Deus nas Alturas.

António Gedeão



Litania para este natal

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Num sótão num porão numa cave inundada

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Dentro de um foguetão reduzido a sucata

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Numa casa de Hanói ontem bombardeada

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Num presépio de lama e de sangue e de cisco

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Para ter amanhã a suspeita que existe

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Tem no ano dois mil a idade de Cristo

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Vê-lo-emos depois de chicote no templo

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

E anda já um terror no látego do vento

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto

Para nos vir pedir contas do nosso tempo

David Mourão-Ferreira



Natal 2005

O menino sorri sobre as palhinhas, e cintilam as luzes do pinheiro,

e mesa está repleta de iguarias e à sua volta há muito comensal,

muitos adultos, algumas criancinhas.

Por entre a excitação o sono espreita mas a hora de deitar não se respeita,

é preciso receber o Pai Natal, com todos os presentes.

Atravessa o ar, em galopada, um tropel de palavras fugidias:

uma boneca, um avião, uma consola, uma casinha, um helicóptero, uma bola,

um robot, um mecano, uma pistola um triciclo, uma prancha, uma viola….

Isolo-me de tanta confusão e penso com saudade nos ausentes

cuja imagem é cada vez mais desbotada.

Levanto-me num gesto sorrateiro, vou à janela e ninguém dá por nada.

É Natal.

No passeio em frente, deitado no chão, dorme um mendigo, coberto com um jornal.

Regina Gouveia



Natal 2008

É Natal

Um enxame de luzes adeja na cidade

As ruas crepitam de música e de gente

que, apressadamente,

embrulha em consumismo o normal egoísmo,

transformado em amor e em fraternidade

Mas logo o Natal cessa

e então tudo regressa

à habitual normalidade.

Regina Gouveia



Natal 2006

Inexorável o tempo avança como um rio que flui

em direcção ao mar das memórias que sedimenta ou dilui.

Mas eis que, de novo, em cada natal se repete a magia

de voltar a ser criança por um dia

Regina Gouveia



E para os mais pequenos…

(Do livro Ciência para meninos em poemas pequeninos, de Regina Gouveia com ilustrações de Nuno Gouveia)




domingo, 20 de dezembro de 2009

A estrela de Belém

Não sabemos se a estrela de Belém


era estrela, supernova ou cometa.

Diz-se que brilhava intensamente

anunciando o nascimento dum Messias.

Que brilhe novamente este Natal,

que volte a ressurgir em nossos dias

que venha anunciar a profecia

de paz e harmonia no planeta.

Gouveia,R. 2007



A Estrela de Belém aparece em muitas das representações da Natividade que foram sendo criadas ao longo dos séculos. As mais antigas mostram uma estrela simples, de seis, sete ou oito pontas, como é o caso de algumas, do séc. IV, encontradas em sarcófagos no Vaticano, ou, do séc. VI, em mosaicos de Ravena. O capitel do séc. XII, de Gislebertus, da catedral de Autun, exibe também uma estrela de oito pontas.



Mais tarde, surgem as famosas pinturas de Giotto (1267-1337): o fresco A Adoração dos Magos (1303-05), da Capela Scrovegni, em Pádua, e também A Epifania (1320), um painel pertencente a uma série de sete sobre a vida de Cristo. Nestas duas obras a estrela surge com uma cauda, tal como um cometa, o que não é muito estranho se nos lembrarmos de que em 1301 se registou uma passagem do cometa Halley, que Giotto certamente terá observado.

Aliás, esta ideia, de que a estrela poderia ter sido semelhante a um cometa, já vem referida nos escritos de Origens de Alexandria, filósofo e teólogo que viveu entre 185 e 254 D.C. e um dos primeiros a procurar uma interpretação natural para o fenómeno.

Os cometas são os únicos pequenos objectos do Sistema Solar que se conhecem desde a mais remota Antiguidade. O cometa Halley é documentado desde 467 a.C. A civilização chinesa, sempre empenhada em manter registos, tem referências ao cometa Halley desde pelo menos o ano 240 AC. Em 1682 o astrónomo inglês Edmond Halley (1656-1742) determinou a sua órbita, sendo o Halley um cometa periódico visível a cada 76 anos.

Encontram-se registos gráficos do Halley na tapeçaria normanda de Bayeux. A Tapeçaria de Bayeux é uma obra de arte bordada entre 1070-1080 pelos artesãos da catedral de Canterbury a pedido do bispo Odo de Bayeux (1030-1097), meio-irmão de Guilherme, o Conquistador. Além de representar magnificamente muitas cenas da vida quotidiana nobre do final do século XI, a Tapeçaria retrata a vitória normanda na batalha de Hastings (1066), que teve como consequência a posterior conquista normanda da Inglaterra com a derrota anglo-saxã das forças de Haroldo II, rei da Inglaterra (1066). A passagem do cometa, representada na cena 16 na parte superior esquerda, foi interpretada como um mau presságio.


Nos nossos presépios é extremamente comum vermos a estrela de Belém representada como um cometa. Só que a cauda do astro está voltada para o estábulo, o que é cientificamente inaceitável. Quando o Sol se põe as caudas dos cometas apontam para cima, pois elas sempre ficam em sentido contrário ao Sol.

No entanto, Giotto, que viu o Halley em 1301, na Adoração dos Magos pintou -o na posição correcta, com a cauda voltada em sentido oposto ao estábulo.


A hipótese de a estrela de Belém ser o cometa Halley é muito improvável em termos cronológicos.

Para a maioria dos teólogos dos primeiros séculos D.C., tal como Santo Agostinho (354-430), a estrela terá sido um milagre, uma força divina que terá tomado a forma de uma estrela. Ainda hoje muita gente acredita nesta justificação.



Mas a partir dos séculos XIV e XV, com o Renascimento e as Descobertas, assistiu-se a um desabrochar do conhecimento, o que viria a trazer à luz alguns paradoxos religiosos. Começou a surgir a necessidade de se encontrar uma explicação mais clara e natural para este género de prodígios, de forma a compatibilizá-los com os dados empíricos.

O contributo mais importante para se começar a pensar na estrela como um fenómeno astronómico real terá sido dado, já no séc. XVII, pelo astrónomo alemão Johannes Kepler.

Antes do Natal de 1603, Kepler observou uma conjunção entre Júpiter e Saturno. Os planetas estavam muito próximos, separados apenas por um arco de grau, na constelação de Peixes. Kepler fez então uma série de cálculos que lhe permitiram concluir que uma conjunção semelhante teria ocorrido no ano 7 A.C.. Mas essa conjunção tivera uma particularidade, fora uma conjunção tripla, ocorrida entre Maio e Dezembro desse ano remoto.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

De novo, o Natal

Entremos, apressados, friorentos,


numa gruta, no bojo de um navio,

num presépio, num prédio, num presídio,

no prédio que amanhã for demolido...



Entremos, inseguros, mas entremos.

Entremos, e depressa, em qualquer sítio,

porque esta noite chama-se Dezembro,

porque sofremos, porque temos frio.



Entremos, dois a dois: somos duzentos,

duzentos mil, doze milhões de nada.

Procuremos o rastro de uma casa,

a cave, a gruta, o sulco de uma nave...



Entremos, despojados, mas entremos.

Das mãos dadas talvez nasça o fogo nasça,

talvez seja Natal e não Dezembro,

talvez universal a consoada







David Mourão Ferreira








Agora que o Natal se aproxima...

Gostaria de partilhar convosco alguns poemas de Natal

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A nossa pequenez face ao Universo

O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio em suma.
O resto é a matéria.
Daí que este arrepio
Este chamá-lo e tê- lo, erguê-lo e defrontá- lo,
Esta fresta de nada aberta no vazio, deve ser um intervalo.
Gedeão.A, Máquina do Mundo, in Máquina de fogo 1961

Silêncio cósmico
Pudera eu regressar ao silêncio infinito, ao cosmos de onde vim.
No espaço interestelar, vazio, negro, frio,
havia de soltar um grito bem profundo
e assim exorcizar todas as dores do mundo.
Gouveia, R

Somos tão pequeninos face à imensidão do Universo

Vejam como somos tão pequeninos face à imensidão do Universo